Arquivo para fevereiro 2010

Partidas

26 de fevereiro de 2010

Tem uma pessoa muita próxima a mim que em breve estará pegando um trem que a levará embora para sempre. Ela sabe disso, mas não quer ir embora. Eu sei disso e não quero que ela vá. Também não quero me dispedir para que ela não perceba que eu sei que ela partirá. Ela também não quer se despedir de ninguém para que todos pensem que ela ficará. Mas infelizmente a hora do embarque se aproxima.
Tenho evitado dizer o quanto a amo. Daria muito na cara falar disso logo agora. Optei então por demonstrar com ações o que eu gostaria de dizer.
E acho que será assim, sem despedidas. Somente a lembrança de ter feito o melhor e demonstrado no amor sem palavras a gratidão eterna e falta enorme que ela fará.
Tudo isso tem provocado uma luta intensa entre a aceitação racional dos fatos e a incompreensão irracional do amor. Cada hora uma voz fala mais alto.
Agora estou aqui tentando terminar esse texto mas não consigo. Acho que é culpa desse tal amor irracional, que não quer deixar certas coisas acabarem.

Só uma virose…

21 de fevereiro de 2010

Tudo começou na sexta-feira quando meu irmão passou mal enquanto estava trabalhando. Com fortes dores abdominais, dor de cabeça, febre, enjoo e mal estar, foi para o hospital. A médica que o atendeu levantou varias suspeitas, inclusive de ser dengue. Fez um ultra-som abdominal, que nada mostrou, e um exame de sangue que apontou o início de alguma infecção. Medicado com remédios para dor, voltou para casa.
As dores continuaram e na mesma sexta voltamos ao hospital. O médico que o atendeu  pediu um raio-x do pulmão pensando ser uma pneumonia. Não era. Medicado com remédios para dor, voltou para casa.
Com as dores e a febre persistindo, e ainda adicionando uma forte diarréia ao quadro, voltamos pela terceira vez ao hospital. Na chegada já solicitamos uma maca pois meu irmão mal conseguia se manter em pé. O médico fez um exame rápido nele e disse:
– Isso deve ser apenas uma virose.
– Será doutor? Mas porque essas dores não passam? O exame de sangue mostrou infecção.  – disse meu irmão ao médico.
– Você tem o exame aí?
– Tenho sim, está lá fora com meu irmão
O médico me chamou e pediu os exames. Enquanto olhava foi dizendo:
– Ele deve tá com uma virose, vamos dar uns analgésicos e ele deve melhorar.
– Mas doutor, essa dor dele não passa desde ontem, uma virose deixaria ele assim? – indaguei eu.
– Bom, se a dor continuar, vou pedir uma tomografia do abdome.
– Ok doutor.
As dores não passaram. A tomografia foi feita e o que revelou? Uma virose? Não, uma apendicite aguda tipo um.
A cirurgia foi feita no dia seguinte e meu irmão já está bem.

Cartolina azul

10 de fevereiro de 2010

Sentei-me na carteira mal conseguindo olhar para a lousa, pois eram sete e quinze da manhã e o sono ainda se fazia muito presente. Mas de repente vejo o Minhoca passando com uma cartolina azul debaixo do braço. Ele que se sentava logo atrás de mim, foi sentar-se no fundo da classe nesse dia. Pensei que fosse adiantar algum trabalho, mas depois lembrei que estávamos no começo do ano e nenhum professor tinha passado trabalho pra classe ainda.
Ele abriu então a cartolina lá no fundo, e começou a escrever ou desenhar algo. Permaneceu lá durante toda a aula de física. Ao fim da aula corri para ver o que ele fazia. Porém ao notar minha aproximação ele fechou a cartolina e não me deixou ver o que fazia. Mesmo com muita insistência se manteve firme em seu segredo.
Passou então as três primeiras aulas no fundo da classe e uma parte do intervalo resistindo bravamente a cada um que ia tentar ver seu projeto secreto.
No meio do intervalo ele foi me chamar. Ao chegar na classe ele puxou e abriu a cartolina azul.
Mal podia acreditar.
Minhoca era um exímio desenhista. Fazia um curso de eletrônica, mas deveria estar em um de desenhista, pois conseguia fazer desenhos absolutamente precisos, mesmo que fosse usando o giz e a lousa. Começava a fazer os primeiros traços sempre de olhos fechados. Era impressionante. Além de desenhar qualquer coisa, fazia caricaturas fantásticas.
Pois foi exatamente isso que ele fez. Desenhou uma caricatura de cada professor que tínhamos no curso. Todos na cartolina azul.
Me lembro bem de um professor que achávamos parecido com o Alain Prost(piloto de formula 1) e ele fez sua caricatura dentro de um carrinho de corrida e com o capacete e o narigão de fora. Um outro professor que tirávamos sarro que ia dar aula bêbado, ele fez com uma garrafa de pinga na mão e todo retorcido quase caindo no chão. Cada uma das caricaturas era genial e cheia de detalhes.
Ele começou a mostrar pra todo mundo então e cada vez mais gente foi chegando. Era um riso mais alto que o outro e o barulho aumentando.
Sem que ninguém percebesse no entanto, devido a tanta empolgação, a inspetora de alunos apareceu bem diante de nós e mesmo com os vários pedidos para não fazer aquilo, ela confiscou a cartolina azul.
Ao sair, todos nós ficamos revoltados, mas tivemos que nos acalmar pois o professor acabava de chegar à sala.
Começou então a aula de desenho eletrônico, mas com menos de dez minutos a aula foi interrompida. A diretora surgiu na porta com um certo ar de irritação e pediu licença ao professor para entrar. Carregava em uma das mãos a cartolina azul que antes era do Minhoca. Parou em frente a todos e perguntou olhando para o papel:
– Quem foi o responsável por isso aqui?
Todos ficaram imóveis. Alguns só deram uma leve olhada de canto de olho na direção do nosso amigo desenhista. Seguiram-se alguns infinitos segundos de silêncio.
Minhoca então se levantou:
-Fui eu diretora – disse olhando pra baixo – é que…
– Não precisa se justificar. Só queria te dizer uma coisa.
Nesse momento todos abaixaram a cabeça, já esperando o sermão que viria. Ela prosseguiu:
– Queria te dar os parabéns!
Levantamos a cabeça e vimos a diretora sorrindo.
– É sim, parabéns! Os professores adoraram seu trabalho. Riram sem parar. Perguntaram se podemos colocar no mural da escola e se você nos cederia esses desenhos para deixarmos guardados aqui no arquivo da escola.
– Sim, claro… tudo bem. – respondeu minhoca meio sem entender o que estava acontecendo, mas feliz por não ter se dado mal.
A diretora agradeceu, pediu licença e saiu.
A cartolina azul foi então colocada no mural e ficou ali durante todo o ano.
O professor bêbado deixou o Minhoca de recuperação.

Thriller no casamento

7 de fevereiro de 2010

Estive num casamento nesse final de semana e me lembrei desse vídeo que acho muito bacana. Quero fazer igual no meu próximo casamento. 🙂

Mensagem do presidente

4 de fevereiro de 2010

Enquanto estava na faculdade, numa daquelas semanas de palestras, que por sinal todo mundo usa pra faltar ou ir ao barzinho, lembro-me de uma palestra que me deixou uma mensagem gravada na mente até hoje. Por sinal foi uma das únicas palestrar que assisti durante os cinco anos do curso(preferia faltar ou ir ao barzinho).
Essa palestra foi dada pelo presidente da Compaq(agora HP) na época. Não lembro o nome dele, mas a palestra era sobre novas tecnologias. Com um auditório cheio e um público quase todo de estudantes de exatas ele fez um discurso mais ou menos assim:

” Caros alunos, vou começar minha palestra com a mensagem mais importante que vocês vão ouvir aqui hoje. Espero que pelo menos isso que eu falarei a seguir vocês guardem para  resto de suas vidas.
Eu acordo todo dia as seis horas da manhã, tomo meu café com pães, ovos e frutas e depois corro durante uma hora. Faço ainda natação, como verduras, legumes e carnes magras. Estou dizendo tudo isso apenas para lembrar que em primeiro lugar vocês devem cuidar desse corpo que têm aí, pois é ele que vai dar condições para vocês fazerem tudo o que desejam. Se ele não estiver bem, de nada vai adiantar saber as novas tecnologias que estão surgindo.”

Logo após houve aquele silêncio absoluto com todos se entreolhando, mas em seguida ele prosseguiu com sua palestra. Não lembro de quase nada do que ele disse naquele dia, mas acho que ele cumpriu sua missão pois a mensagem que ele realmente queria transmitir, pelo menos pra mim ele conseguiu.

O bem que alguém te faz

4 de fevereiro de 2010

Algumas pessoas passam pela nossa vida e não têm a mínima noção do quanto nos fizeram e nos fazem bem. As vezes com um simples sorriso, um e-mail enviado no meio da tarde ou com uma boa conversa regada a cerveja. O engraçado é que para a pessoa nada de diferente aconteceu, mas para a gente é como se ela tivesse dado um presente. Esse presente é simplesmente nos deixar bem, com esperança e melhores do que estávamos. Resumindo, elas pegam nosso humor e fazem ele subir uns dez pontos ou mais. Mas elas não tem a menor noção do que estão fazendo.
Deveríamos agradecer a essas pessoas, mas de um modo geral elas iriam estranhar e dizer: mas eu não fiz nada. Mas sabemos que ela fez.
Por um tempo após minha separação, eu estava com alguma pessoa e pensava assim: o que eu estou fazendo aqui? não deveria estar fazendo isso. E me sentia mal logo após. Isso foi diminuindo com o passar do tempo, mas continuava a me incomodar em algumas ocasiões.
Mas foi graças a uma pessoa, que surgiu em minha vida que isso  mudou. Quando eu estava em sua companhia comecei a pensar assim: ainda bem que estou aqui.  E finalmente deixei de ter aqueles pensamentos de antes.
Porém essa pessoa me disse na ultima vez que nos vimos, que sentia um pouco por ter me feito mal. Olha “pessoa”, o mal que você me fez é mais ou menos como alguém que toma uma picadinha de uma agulha bem fininha, para aplicar uma vacina que vai curar um câncer.
Obrigado por sua vacina.

A porta

2 de fevereiro de 2010

(Baseado em fatos reais)

– Espera moço, eu vou nesse também. – falou Gustavo quase gritando.
O motorista que entrava no ônibus para iniciar sua viagem, voltou e olhou assustado para o moço que arrastava uma mala, tentava retirar a mochila das costas e entregar o bilhete para embarcar.
– Sim amigo vamos lá então, mas é melhor colocarmos sua mala no bagageiro. – disse o motorista ao passageiro atrasado e com jeito de zangado.
Também pudera, ele havia saído de sua casa quatro horas antes em pleno domingo. Imaginou que,  para os cem quilometro que tinha que percorrer até chegar à rodoviária do Tietê, as quatro horas seriam mais que suficientes. Redondo engano. Mesmo aos domingos ocorrem engarrafamentos em São Paulo.
Mas por sorte chegou a tempo. Entrou no ônibus, encontrou sua poltrona, se ajeitou, colocou os fones no ouvido e se preparou mentalmente para a viagem de quase doze horas que faria até uma pequena cidade em Santa Catarina.
Mal o ônibus deixou a Rodoviária, Gustavo já havia caído no sono. Mas logo na primeira parada, ainda nos arredores de São Paulo acordou sonolento e viu que a viagem mal havia começado. Voltou a dormir. Lá pelas tantas ele é acordado por um aviso enviado por sua bexiga, prestes a estourar. Se levanta e vai até o banheiro no fundo do ônibus. Durante sua caminhada percebe que todos estão dormindo, o último passageiro por sinal roncava mais que o motor do ônibus. Ele chega então ao banheiro, no escuro tateia até encontrar  maçaneta da porta e puxa para abrí-la. Porém a porta não abre. Tenta novamente com mais força e nada. Procura alguma chave ou tranca para abrir, mas nada. Tenta novamente agora usando apoio com o pé.
Sem sucesso, volta ao seu assento e começa a pensar no que faria. Levanta-se e vai falar com o motorista. Abre a porta que separa a cabine do restante do ônibus e pergunta ao motorista:
– Com licença senhor, tentei usar o banheiro mas ele tá trancado
– Trancado? Acho que não, por que ele sempre fica aberto. Nem tem como trancar.
– Mas eu tentei abrir e não consegui.
– Tá bom. O senhor pode esperas até a próxima parada que eu vejo lá.
– Ok, eu aguardo. Mas em quanto tempo iremos parar?
– Mais uma hora e chegamos na primeira parada, tudo bem?
– Ok.
Gustavo retorna ao seu lugar mas já com calafrios em pensar que terá que aguardar mais uma hora. Senta-se já com as pernas bem fechadas e começa a pensar em formas de aguentar mais uma hora e segurar sua enorme vontade. Começa a suar frio e a imaginar o que aconteceria se não conseguisse se segurar. Chega a conclusão de que não seria nada agradável, caso fracassasse em sua tarefa de conter essa necessidade básica.
Mas eis que nesse momento uma senhora já de idade avançada que estava dormindo algumas poltronas atrás da sua se levanta e dirige-se ao banheiro. Ele pensa: que bom, ela também vai reclamar ao motorista e com isso pode até ser que ele resolva isso antes.  No entando ele é surpreendido pelo barulho da porta se abrindo. Mas quando olha a porta já estava fechada.
Sentiu uma enorme vergonha percorrer seu corpo. Como ela pode abrir a porta? Então não está trancada?
Ficou olhando fixamente para trás. Queria ver que milagre a velhinha tinha feita. Ao escutar um barulho vindo do banheiro arregalou os olhos e pode constatar. A senhor simplesmente puxou a porta para sair, ou seja, tinha apenas empurrado para entrar, ao contrário de Gustavo que só tentou puxar a porta.
Logo depois da senhora, correu para o banheiro, aliviou-se e voltou quietinho ao seu lugar.
No momento da parada fingiu estar dormindo.

Mudanças em um casal

1 de fevereiro de 2010

Creio que seja perfeitamente natural em um casal, cada um dos lados sofrer mudanças de comportamento ou no jeito de ser, em virtude da convivência com a outra parte. Acho isso normal, mas não acredito que essa mudança seja uma consequência boa do relacionamento. Quando nenhum dos dois muda ou mudam muito pouco, entendo eu que seja mais consistente a manutenção da felicidade de cada um e também do casal.
Ontem estive com um casal de amigos que sempre me impressiona muito e me deixa feliz também. Conheci os dois antes de se conhecerem e ao longo desses anos acompanhei suas trajetórias. Em alguns momentos mais perto, em outros mais longe, mas nunca perdemos o contato. Pois ontem estavam ali os dois na minha frente, sendo praticamente as mesmas pessoas que conheci a vários anos atrás. Claro que mais experientes, mas a essência das duas pessoas permanece intacta.
Muito legal isso. Pra mim é o casal que mostra perfeitamente duas pessoas que se somam.
Parabéns ao casal e que essa soma só venha a se tornar uma multiplicação.